Incrível! Aquecimento global aumenta
biodiversidade em torno dos icebergs
por Texto Pedro Burgos
SUPER
INTERESSANTE
Desde
que o Titanic bateu em um iceberg em 1912, os enormes blocos de gelo que
flu-tuam pelos oceanos ficaram com fama de maus. Mas uma nova pesquisa mostra
que de bandidos eles podem passar a mocinhos – em um surpreendente efeito
colateral positivo do aquecimento global. É só ver o que se passa embaixo
d’água. Pesquisadores perceberam que, enquanto vagam lentamente pelo mar de
Weddel (sul do Atlântico), os pedaços de gelo que se soltaram da Antártida vão
derretendo, deixando pelo caminho um rastro de nutrientes que ficaram
congelados por milhares de anos. Isso atrai o fitoplâncton, microorganismo que
faz fotossíntese e forma imensas florestas marinhas. A plantinha também é a
base da cadeia alimentar no continente gelado.
Os
cientistas perceberam que num raio de até 3,2 quilômetros dos icebergs
formou-se um novo ecossistema: a produtividade biológica do mar de Weddel, que
compreende 2,8 milhões de quilômetros (um terço da área do Brasil), aumentou em
40% por causa dos icebergs. Mas o mais interessante é que o gelo derretido
pode, indiretamente, servir de rota para o seqüestro de CO2, o gás de efeito
estufa que mais contribui para o aquecimento global. Como o carbono é consumido
pelo fitoplâncton – e este comido por microcamarões –, o CO2 troca a atmosfera
pelo fundo do mar. “Enquanto o derretimento das calotas polares está
contribuindo para elevar o nível dos oceanos e outras mudanças climáticas, esse
papel adicional de remover o carbono da atmosfera pode ter implicações para o
clima que precisam ser estudadas”, disse o oceanógrafo Ken Smith, do Monterey
Bay Aquarium (EUA), responsável pela pesquisa.
Fitoplâncton
O
fitoplâncton é um conjunto de plantas microscópicas, unicelulares, que
florescem na superfície da água quando há nutrientes. Como todas as plantas,
elas fazem fotossíntese: capturam da atmosfera o CO2 – um dos gases
responsáveis pelo efeito estufa – e liberam o oxigênio.
Nutrientes
A
região polar do oceano é pobre em nutrientes. Mas, como é feito de água doce, o
iceberg guarda sedimentos terrestres de milênios atrás, como ferro (o
principal), nitratos, fosfato e ácido silícico. À medida que o gelo vai derretendo,
os nutrientes são liberados e atraem a vida.
Oceano de icebergs
O
mar de Weddel fica ao sul da Argentina e forma um golfo na Antártida que, até
2002, tinha uma fina camada de gelo, que derreteu. Estima-se que existam 1000
icebergs vagando pelo território, levando vida para 40% da área.
Icebergs
Os
icebergs pesquisados têm de 2 a 20 km de extensão. Menos de 20% dessa área fica
na superfície, visível. A influência do iceberg na fauna marinha compreende um
círculo de até 3,2 km em volta.
Krill
É
um microcamarão que se movimenta em imensos cardumes e se alimenta de
fitoplâncton. Quando morre, o krill vai para o fundo do oceano, levando com ele
o carbono acumulado pelo fitoplâncton.
Cadeia Alimentar
Os
cientistas perceberam que o krill atrai vários outros predadores da fauna da
Antártida, como peixes, focas, pingüins e até baleias. Albatrozes, que também
se alimentam de krill, começaram a fazer paradas nos icebergs, já que há comida
por perto.